Em apoio a Lúdio, "Bilionário" sonegador de impostos, denunciado por prática de escravidão, fazia festa regada a churrasco
Repercussão negativa do vídeo gravado com o empresário ganhou a mídia nacional
Quinta-feira, 24 de outubro de 2024
Magnata do agronegócio e membro de uma das famílias mais ricas do Brasil, Elusmar Maggi Scheffer declarou apoio ao petista Lúdio Cabral, na disputa em segundo turno pela Prefeitura de Cuiabá contra Abílio Brunini (PL).
O fato ganhou repercussão nacional, com destaques nos principais veículos de comunicação, dado perfil do empresário, no contexto do agronegócio no país
Em um vídeo que circula nas redes sociais, o empresário aparece em um salão de festas, onde ocorre um churrasco, convocando no microfone os eleitores que votam na capital mato-grossense a apoiarem o candidato do PT na segunda etapa do pleito.
“Pessoal, para quem vota aqui em Cuiabá, segundo turno, Elusmar Maggi, Bom Futuro: é Lúdio, é 13 na cabeça. Eu quero o voto de vocês todos, de cada um. Pede voto para vizinhos, parentes, namorada, namorado, amigo, amiga… Pai, mãe, filho, sobrinho, tio, avô e neto. E o vizinho da direita, da esquerda, da frente e de trás. Vamos eleger Lúdio! Muito obrigado a todos vocês, até a vitória”, disse o empresário.
Elusmar é sócio do Grupo Bom Futuro, uma das maiores empresas do setor agrícola brasileiro.
A família do empresário aparece na lista da Forbes como a mais rica do agronegócio brasileiro, somando mais de R$ 42 bilhões, entre todos os membros.
O empresário é primo do ex-governador e ex-senador Blairo Maggi (PP), que também atuou como ministro da Agricultura do Governo de Michel Temer (MDB).
O juiz da 1ª Zona Eleitoral de Cuiabá, Moacir Rogério Tortato, determinou, na terça-feira (22), que Elusmar Maggi se abstenha de realizar atos de campanha durante eventos de confraternização em suas empresas.
Empresário foi processado por prática de escravidão
Em 2008, Elusmar, Eraí e Fernando foram processados por manter 41 trabalhadores em condições análogas à de escravidão. De acordo com denúncia formulada pelo Ministério Público Federal (MPF), a equipe de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) flagrou a situação irregular na fazenda “Vale do Rio Verde”, em Tapurah (a 445 quilômetros de Cuiabá).
O MTE constatou as seguintes irregularidades: jornada de trabalho extenuante; alojamentos sem armários, roupa de cama e extintores e com colchões velhos e ventilação e iluminação insuficientes; banheiros sem papel higiênico, lixeiras e portas; falta de instalações sanitárias na lavoura; manuseio de agrotóxicos de maneira inadequada; e utilização de equipamentos de proteção individual deteriorados ou inadequados.
O caso correu até 2013, quando o juiz Jeferson Schneider, da 5ª vara da Justiça Federal em Mato Grosso, decidiu absolver os sojeiros. Também foram inocentados Caetano Polato (dono da fazenda) e José Maria Bortoli (cunhado de Eraí). “Embora as violações aos direitos trabalhistas sejam graves, merecendo reparação por danos econômicos e morais, não é possível se falar na aniquilação da liberdade do indivíduo física ou psíquica”, escreveu o magistrado. “Isso porque as irregularidades verificadas não ocorreram de forma persistente ou duradoura”.
Segundo a Repórter Brasil, especializada no tema, Polato é reincidente na prática do crime. O fazendeiro já havia sido flagrado explorando trabalho escravo na mesma propriedade pelos fiscais e assinou termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público do Trabalho (MPT) no Mato Grosso em 2001 e em 2005.
Grupo que empresário é sócio sonegou R$ 300 milhões em impostos e foi alvo de CPI
Um ano depois da absolvição, em 2014, a Bom Futuro foi autuada por sonegação de R$ 300 milhões em impostos, simulando transações comerciais por meio da Cooperativa Agroindustrial de Mato Grosso (Cooamat). As investigações motivaram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa. O relatório final acusou Eraí Maggi, conhecido como “rei da soja”, de usar cooperados como “laranjas”, para se beneficiar pagando menos impostos.
Conforme o texto, dos 30 associados à Cooamat, 13 nunca fizeram uma transação comercial sequer. O documento também apontou que a maioria dos cooperados eram funcionários do Grupo Bom Futuro e que a sede da Cooamat permaneceu dentro da própria empresa. Desde 2015, inquéritos sigilosos sobre o caso, abertos com base nas investigações do Legislativo, tramitam na Delegacia Fazendária (Defaz) e nos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
De acordo com um relatório sobre soja e gado publicado em dezembro de 2019 pela Mighty Earth, organização de defesa do ambiente, a Bom Futuro possui cerca de 500 mil hectares de plantações de grãos e fibras (soja, milho e algodão) e outros 130 mil hectares com pecuária na Fazenda Cocal, em Conarana (MT). O grupo desenvolve atividades de criação de peixes e tem uma empresa de energia operando três usinas hidrelétricas na Bacia do rio Paraguai.
Reportagem do De Olho Nos Ruralistas mostrou, em 2019, que a destruição de um trecho do Rio Juruena para a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) já rendeu R$ 43 milhões a políticos, como Blairo Maggi, e empresários. O local abriga comunidades tradicionais, organizadas por meio da Rede Juruena Vivo. Elas enviaram uma carta à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reivindicando que sejam consultadas antes da autorização de empreendimentos do tipo.
Nenhum comentário