Revoltante - Espera por consultas com especialistas ultrapassa 650 dias em Mato Grosso
A longa demora, que, em muitos casos ultrapassa um ano, prejudica o diagnóstico e o prognóstico de doenças graves.
Pacientes que necessitam de atendimento para doenças hereditárias, síndromes genéticas ou fatores de risco genéticos esperam, em média, 659 dias por uma consulta com um médico geneticista no Sistema Único de Saúde (SUS) em Mato Grosso. Outras especialidades médicas também registram longas esperas.
Consultas com coloproctologistas, cirurgiões plásticos e reumatologistas agendadas para 2024 exigem mais de um ano de espera. O tempo para uma consulta com um coloproctologista, médico especializado no diagnóstico e tratamento de doenças do intestino, aumentou de 115 dias, em 2021, para 635 dias em 2024. Já a fila para cirurgia plástica, que tinha uma média de espera de 123 dias em 2020, agora chega a 544 dias.
A longa demora, em muitos casos, prejudica o diagnóstico e o prognóstico de doenças graves, como as de cólon, por exemplo. É o que explica o médico Osvaldo Mendes, 2º vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT). “Nesses casos, muitas patologias têm um carater pré-cancerigêno forte e urgente, e o atraso pode prejudicar bastante o tratamento”, afirma.
Mendes, cirurgião pediátrico, destaca a escassez de especialistas no SUS em Mato Grosso. Ele explica que diversos fatores contribuem para esse cenário, entre eles a infraestrutura de trabalho oferecida na rede pública, especialmente em localidades distantes da capital. Além disso, há uma insuficiência no número de vagas de residência oferecidas, considerando o volume de médicos formados no país anualmente.
“Temos muitas faculdades de medicina formando médicos, mas o número de vagas para residência não acompanha essa demanda. Isso faz com que muitos desistam de se especializar. Como as vagas são poucas, muitos desistem ou optam por cursos de pós-graduação que não conferem a especialização necessária”, afirma.
De acordo com dados obtidos pelo PNB Online por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), 82% das especialidades médicas em Mato Grosso registraram aumento nos tempos de espera em 2024. Além das áreas já mencionadas, outras especialidades com filas extensas incluem gastroenterologia, neurologia, geriatria e endocrinologia.
Em todos esses casos, a fila de espera no estado é significativamente maior que a média nacional, o que também se aplica à oftalmologia. Um usuário do SUS em Mato Grosso que precisar de uma consulta com um oftalmologista levará, em média, cinco meses para ser atendido, enquanto a média nacional é de cerca de 60 dias.
No estado mais afetado pelas queimadas, consultas com pneumologistas também levam muitos meses. Os dados mostram que a demora tem aumentado ano a ano. Em 2020, o tempo médio de espera era de cerca de 92 dias, passando para 99 em 2021, 189 em 2022, 230 em 2023 e, em 2024, chegou a 246 dias. Mato Grosso agora possui a fila de espera mais longa do país para essa especialidade. A segunda unidade federativa com maior espera é Tocantins, com uma média de 179 dias.
O que diz a SES
Questionada sobre as causas do aumento nos tempos de espera na maioria das especialidades, a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT) apontou que, até 2018, a maioria dos municípios do estado não utilizava o Sistema de Regulação (Sisreg), exceto Cuiabá.
A partir de 2019, o sistema foi implementado em todo o estado, o que teria tornado os processos mais transparentes. A pasta também destacou que a pandemia de covid-19 sobrecarregou o sistema de saúde, contribuindo para o aumento nas filas.
Como medidas para reduzir o tempo de espera, a SES ressaltou a construção de seis novos hospitais pelo governo de Mauro Mendes (União) e a contratação do hospital privado Hilda Strenger Ribeiro, em Nova Mutum, para realizar 4,4 mil procedimentos de média e alta complexidade pelo SUS. Além disso, há uma proposta de ampliação dos contratos com o Hospital do Câncer de Mato Grosso, aumentando o número de procedimentos realizados na unidade.
Em resposta enviada à redação, a pasta não mencionou a nomeação dos aprovados no último concurso da saúde, realizado em abril deste ano. O certeme previu formação de cadastro de reserva para todas as especilidades citadas nesta reportagem, exceto para médicos genetiscistas. Para Osvaldo Mendes, a nomeação desses profissionais deve ajudar a melhorar o cenário, especialmente nas áreas de média e alta complexidade, que são as mais afetadas.
No mês passado, o então secretário de Estado, Gilberto Figueiredo, foi questionado em audiência pública pela demora. O edital, que previa 406 vagas em sistema de cadastro de reserva, foi classificado por Figueiredo como um “desafio fiscal”. O secretário evitou se comprometer com uma data ou com o número de servidores que serão contratados.
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