Ranking de maiores dívidas do futebol tem 'trio do bilhão' e Corinthians quase lá


 Sábado, 03 de junho de 2023 

As dívidas dos principais clubes do futebol brasileiro cresceram R$ 900 milhões de 2021 para 2022, ultrapassando a soma de R$ 11 bilhões pela segunda vez na história, segundo levantamento da Ernst & Young (EY), com base nos demonstrativos financeiros das equipes referente à última temporada.

Atlético-MG, Cruzeiro e Botafogo são os três clubes do país que já viram suas dívidas ultrapassarem o patamar bilionário, enquanto o Corinthians está muito próximo disso.

Mas quanto o número da dívida, de fato, traduz a realidade financeira do seu time do coração? Segundo Pedro Daniel, diretor executivo de esporte e entretenimento da EY Brasil, em entrevista à ESPN, as cifras, embora assustadoras em muitos casos, não devem ser avaliadas sozinhas.

"Se pensar friamente por um indicador só: 'Meu clube deve R$ 1 bilhão. Isso é muito ou é pouco?'. Depende da geração de caixa dele. Depende do patamar financeiro. Trazendo para pessoa física, dever R$ 50 mil é muito ou é pouco? Para quem recebe um salário mínimo, é muito. Agora, para quem é milionário está equalizado", explicou ele.

Em números absolutos, a maior dívida do futebol brasileiro é do Atlético-MG, com R$ 1,57 milhão, em 2022. O outro gigante de Minas Gerais, o Cruzeiro, veio logo em seguida, com R$ 1,18 bilhão; e o Botafogo fecha o “trio do bilhão”, com R$ 1,04 bilhão.

O Corinthians está bem próximo desse patamar, com endividamento líquido de R$ 927 milhões. A maior parte da dívida alvinegra é tributária, que responde por R$ 539 milhões do total. Nenhum outro clube deve mais em impostos do que os paulistas – Botafogo e Fluminense são os que mais se aproximam, com dívidas de R$ 335 e R$ 334 milhões, respectivamente, nesse segmento.


Veja as maiores dívidas do Brasil:

Atlético-MG - 1,57 bilhão

Cruzeiro - R$ 1,18 bilhão

Botafogo - R$ 1,04 bilhão

Corinthians - R$ 927 milhões

Vasco - R$ 679 milhões

Fluminense - R$ 678 milhões


Meu time consegue pagar a dívida?

Um dos indicadores que o estudo da EY utiliza para colocar em perspectiva o endividamento de cada clube é relacionar a dívida às receitas geradas na temporada.

"Fazemos essa relação endividamento x receita para ver qual clube está com a exposição maior, mais alavancados. Clubes de Série B estão mais alavancados por ter receita menor. São dívidas mais onerosas, porque tem menor geração de caixa, por isso fazemos essa análise", disse Pedro Daniel.

Apesar da dívida de quase R$ 1 bilhão, por exemplo, o Corinthians foi a terceira equipe do Brasil que mais arrecadou no último ano, com faturamento de R$ 777 milhões, só abaixo de Flamengo (R$ 1,17 bilhão) e Palmeiras (R$ 867 milhões). O índice alvinegro, então, ficou próximo a 1: 1,19.

O caso de Botafogo e Cruzeiro, por exemplo, é mais preocupante nessa ótica. A equipe carioca faturou R$ 163 milhões em 2022, apenas a 16ª maior arrecadação do Brasil; e os mineiros, R$ 189 milhões, 13ª. Contrapondo com as dívidas, os indicadores dos clubes são, respectivamente, 6,38 e 6,25.

É como dizer que, mesmo que pegassem tudo que arrecadaram em uma temporada, tendo 2022 como base, e só pagassem dívidas, em um cenário imaginário, Botafogo e Cruzeiro precisariam de mais de seis anos para conseguirem "zerarem" os débitos.

Entre os times da Série B, citados pelo diretor da EY, o pior indicador foi o do Guarani, que tem uma relação dívida x receita em 8,49 – é o único acima de Botafogo e Cruzeiro.


Indicador dívida x receita:

Guarani – 8,49

Botafogo – 6,38

Cruzeiro – 6,25

Vasco – 5,11

Ponte Preta – 4,16

Atlético-MG – 3,83


SAFs e as maiores dívidas do Brasil

Além do topo do ranking de endividamento, Botafogo e Cruzeiro também têm em comum o fato de terem adotado o modelo de Sociedade Anônima de Futebol (SAF) para tentar solucionar os problemas financeiros. Mesmo caminho do Vasco, que tem a quinta maior dívida do Brasil, mas um índice na relação com as receitas (5,11), mais alto do que Corinthians (1,19) ou Atlético-MG (3,83), por exemplo.

"A gente pode ver que os pioneiros das SAF's entraram por conta da necessidade, então não é coincidência eles estarem no topo dos rankings de endividamento. O processo de construção é mais lento que o de degradação, vamos dizer assim", afirmou Pedro Daniel.

"Há um choque de gestão, cada um de uma forma diferente. Mas a gente imagina, por ter sócios, donos, os dois (Botafogo e Cruzeiro) com 90%, a gente vê que, pelo alto risco, diferente do modelo associativo, a gente vai ter uma curva mais acentuada", seguiu o executivo, antes de citar as diferenças adotadas por Cruzeiro e Botafogo em seus modelos com o mesmo objetivo: reduzir o endividamento.

"O Cruzeiro entrou na recuperação judicial, o Botafogo entrou na RCE (Regime Centralizado de Execuções), os dois entraram em recuperação. Mais importante que o tamanho do bolo do endividamento é o perfil dele. Você não faz o corte do endividamento, você nivela ele, e ele se torna mais fácil de ser equalizado, é menos oneroso. Os dois partiram para uma situação como essa. Não é só o número que está no endividamento, mas o perfil da dívida que está mudando."

No modelo de recuperação judicial, seguido pelo Cruzeiro, o clube apresenta à Justiça uma lista com todas suas dívidas e um plano para quitá-las, de forma parcelada, em um prazo específico. Durante esse processo, as contas ficam protegidas de bloqueios, algo que também acontece no RCE, regime (adotado por Vasco e Botafogo) no qual as cobranças são centralizadas, evitando penhoras individuais, e uma parte da arrecadação (20%) é repassada diretamente para o pagamento dos credores (que recebem através de uma espécie de "fila").


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