MAL CARATISMO - Bolsonaro rasga elogios aos Chineses sobre produção de vacinas

Presidente disse que parceria com o país asiático tem sido essencial para a gestão adequada da pandemia no Brasil


 Quinta-feira, 09 de setembro de 2021 

Na abertura da cúpula dos Brics, nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro evitou qualquer crítica ao comunismo e aos chineses, rasgando elogios ao presidente Xi Jinping. 

Isolado, sua intervenção contrasta com as mensagens que insiste em passar a seus aliados e à base bolsonarista. Os atos de 7 de setembro foram marcados, entre outras coisas, por cartazes apelando por uma "ação contra o comunismo". Por meses, tanto Bolsonaro como seus ministros, filhos e assistentes usaram as redes sociais e eventos para atacar a China e qualquer referência às alas de esquerda. 

Luis Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, deixou claro que sempre que tentou se aproximar da China, era sabotado pelo Itamaraty, naquele momento comandado pelo admirador de Donald Trump, Ernesto Araújo. 

Mas considerado como um pária no cenário internacional e sob pressão interna, a postura do presidente brasileiro foi radicalmente diferente ao tomar a palavra no palco internacional nesta quinta-feira. 

Durante a abertura da cúpula, organizada pela Índia, ele optou por um tom de cooperação. Segundo Bolsonaro, a China foi "chave" para lidar com a pandemia no Brasil, fornecendo matéria-prima para a produção de vacinas no país. 

O elogio aos chineses contrasta com a atitude mantida pelo presidente de questionar a eficácia da vacina produzida em Pequim, minar os esforços do Instituto Butantan por doses e disseminar teses sem comprovação sobre as intenções estratégicas do chineses. 

Desta vez, ele ainda elogiou a cooperação com os chineses, indicando que a última reunião entre os dois líderes foi importante para tratar de questões estratégicas. Para Bolsonaro, o encontro mostrou a "saúde da relação bilateral". 

Durante o encontro, Bolsonaro também fez questão de indicar os pontos positivos da relação do Brasil com o resto das grandes potências emergentes, como Rússia, Índia e África do Sul. 

De seu lado, Xi não mencionou especificamente o Brasil, mas destacou como o trabalho dos Brics tem como base a "confiança" e "pragmatismo" entre os governos e o respeito de que cada um siga o "caminho de desenvolvimento" e "modelo de sociedade" que escolher. Uma forma de rejeitar qualquer tipo de ingerência externa no país. 


Isolamento internacional força busca por aliados 

Para observadores, sua reação é reflexo de um governo que vive um isolamento internacional e que precisa reconstruir suas alianças - ou pelo menos deixar de destruí-las. 

Sem Trump, Bolsonaro já não pode contar com o apoio incondicional dos EUA e enfrenta pressões sobre os temas climáticos. Com a UE, a perspectiva para 2022 é de que o acordo comercial entre Mercosul e a Europa não será ratificado. 

Na ONU, ele é alvo de frequentes denúncias de violações aos direitos humanos. Comprando brigas com líderes internacionais, Bolsonaro passou a ser evitado pela maioria deles. 

Agora, sua aposta é a de voltar a se aproximar aos Brics, grupo composto por dois regimes autoritários. O bloco havia sido alvo de hesitação por parte de Ernesto Araújo, ex-chanceler. Mas volta a ocupar um local de destaque nos esforços do atual ministro Carlos França por reconstruir algumas pontes. 

Enquanto Bolsonaro usou seus minutos na abertura da conferência para acenar para os demais parceiros e fazer afagos, os presidentes de China, Índia, Rússia e África do Sul concentraram seus discursos em temas da atualidade internacional. 

O russo Vladimir Putin insistiu na questão afegã, enquanto a China apontou para o fortalecimento dos Brics. Já a África do Sul alertou que era necessário que o bloco adotasse uma postura de defesa de uma maior distribuição de vacinas e da suspensão de patentes para permitir maior produção.



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