'Não adianta ficar em casa chorando', diz Bolsonaro no dia em que o país tem 1.452 mortes pela covid
Depois de cloroquina, presidente agora defende 'spray' ainda em estudo, sem aprovação até mesmo no país de origem, planejando conversar com premiê
Sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
O presidente Jair Bolsonaro disse que "não adianta ficar chorando em casa" no dia em que o Brasil registrou 1.452 mortes pelo novo coronavírus em 24 horas, maior número desde julho.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que "a vida continua" e falou em retomar o trabalho para não parar a economia. Além disso, após passar meses defendendo a cloroquina como tratamento precoce contra a covid-19, defendeu um novo medicamento sem eficácia comprovada, que assim como outros tantos, estão ainda em fase de estudo em seu país, como possível solução. Segundo ele, foi marcada uma reunião com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para conversar sobre o remédio, ainda em estudo por cientistas israelenses.
"A vida continua. Temos de enfrentar as adversidades. Não adianta ficar em casa chorando", afirmou Bolsonaro. "Voltar a trabalhar porque sem a economia não tem Brasil." Desde o início da pandemia, ele tem sido forte crítico do isolamento social, apareceu em aglomerações e em eventos sem máscaras - o que contraria as recomendações de infectologistas.
Também mencionou encontro para tratar do spray nasal, cuja eficácia contra o vírus ainda não foi confirmada por testes científicos. "Já está acertado o encontro virtual entre eu e Binyamin Natanyahu para falarmos sobre esse novo spray que está servindo, pelo menos experimentalmente ainda, para pessoas em estado grave", disse Bolsonaro. Apesar da ressalva de que é "experimental", o presidente defendeu a aplicação. "Está em estado grave? Toma, poxa. Vai esperar ser entubado?"
Na semana passada, Israel anunciou que um medicamento experimental contra o câncer PODE ajudar na recuperação de pacientes com coronavírus. Acadêmicos israelenses afirmaram que 29 dos 30 pacientes com casos moderados a graves de covid-19 tratados com EXO-CD24 tiveram uma recuperação completa em cinco dias. O medicamento, que é inalado, foi originalmente desenvolvido para combater o câncer de ovário e ainda requer mais testes, até porque um remédio não pode comprovar nada, sendo testado em apenas 30 pessoas.
"É uma tremenda de uma notícia. Espero que seja realmente eficaz para o tratamento da covid", comentou o presidente.
O estudo não comparou a droga a um placebo, o que significa que os cientistas não podem afirmar com certeza se o medicamento está por trás da rápida recuperação dos pacientes. O tamanho da amostra dos testes também é muito baixo para tirar qualquer conclusão sobre a eficácia do medicamento e os dados não foram publicados em um jornal especializado.
Apesar disso, a ideia de Bolsonaro é trazer o remédio para o Brasil para submeter para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente destacou que está debatendo o assunto com o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.
Na live desta quinta-feira, Bolsonaro voltou a defender o tratamento off label, fora da bula, e o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19 e comparou com as vacinas, dizendo ainda não haver "certificado" para os imunizantes, o que é mentira.
"Quando eu falei remédio lá atrás, levei pancada. Bateram em mim até não querer mais. E a vacina? Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil porque nós devemos ter várias opções", disse, como se fosse um louco falando.
Estudos publicados em revistas científicas já comprovaram a eficácia de vacinas de diferentes fabricantes, incluindo as de Oxford/AstraZeneza e a Coronavac, usadas no Brasil após aval da Anvisa.
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