Não há espaço para protecionismo!
ARTIGO
Mato Grosso tem anualmente batido recordes de produção nos seus produtos agropecuários, responsáveis por mais de 50 % do PIB estadual. Na pecuária temos anualmente reduzido áreas de pastagem, mas ao mesmo tempo em que acontece aumento do rebanho e da nossa taxa de desfrute com cada vez menor idade de abate.
Leilões de reprodutores exportando os produtos do nosso criterioso melhoramento genético. O nosso Nelore tem se destacado nos pastos, nas mesas e nas bases dos cruzamentos industriais. Para vencer esse desafio, não só os produtores de Mato Grosso, estado que possui uma das piores logísticas do pais, distante 2000 km do porto mais próximo e com mais de 25 mil km de estradas necessitando de asfaltamento, mas agenda comum na Aliança Internacional da Carne onde os 7 países que representam mais de 60% da exportações são unânimes em dizer que para que a carne chegue à mesa de todos os seres humanos é fundamental que se eliminem barreiras tarifárias e não tarifárias que não sejam amparadas pela ciência.
Na contramão da história, todos os anos a indústria frigorífica estadual cada vez que a arroba é valorizada e na atual conjuntura esse aumento é apenas nominal porque os custos subiram numa proporção ainda maior, tenta através de comunicados e artigos alegando falta de animais para abastecer a indústria, pressionar para que o governo promova aumento de alíquota de impostos para a saída do boi em pé e amealhar uma reserva de um mercado já restrito na mão de poucos. Não obstante, se utiliza como argumento, dos números totais de animais que deixaram o estado como se todos fossem ser abatidos no ano e ainda assim sem subtrair da conta os animais que entram.
Se levarmos em conta apenas os que saíram com a finalidade de abate ou seja menos de 9 mil cabeças por mês, abate de uma semana de uma indústria média, os compradores que vêm buscar aqui, esses sim, sofrem uma concorrência ainda mais acirrada. Tem que realizar o pagamento à vista e antecipado, estratégia de negociação pouco praticada pela indústria local, no peso calculado na balança da fazenda, prática sonhada de todo produtor e ainda amargam, mais 7% de ICMS e arcam com um frete muito mais caro, pois além de mais distante ainda recolhem o ICMS sobre o próprio frete.
No nosso vizinho estado do Pará, banhado pelo mar, a exportação de boi em pé é uma realidade e chegou a fazê-lo para vários países atingindo números de mais de 700 mil animais em um único ano. Será que é por isso que o preço da arroba é mais valorizado que em Mato Grosso? Temos como produzir mais e atender todos os mercados: interno, externo de carne, boi em pé e exportação de bezerros.
Em que pese a produtividade de Mato Grosso seja 25% maior que a média nacional, que é de 4 arrobas por hectare, existe não só tecnologia, mas muitas fazendas na prática estão reduzindo o dobro, o triplo e há casos de até 80 arrobas por hectare-ano. Para elevar essa média, os produtores precisam principalmente de incentivos e margem nos seus produtos e não é com mais taxação ou reserva de mercado que isso será alcançado.
Num mundo onde o livre comércio é incessantemente buscado, com acordos bilaterais e multilaterais para ganho de competitividade e garantia de que um número cada vez maior de consumidores tenha acesso, não há mais espaço para protecionismo.
FRANCISCO MANZI é médico veterinário e diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
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