Desgovernado, Brasil se torna arriscado para investidores estrangeiros
Com a infeliz declaração de Bolsonaro de que: "Acabou o combate a corrupção". Adeus segurança jurídica. Adeus investidores externos.
Sexta-feira, 09 de Outubro de 2020
Isso é claramente demonstrado pelas previsões do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, nas sigla em inglês). A associação bancária global realizou uma pesquisa entre seus membros, os 450 maiores bancos e fundos de investimento do mundo em 70 países. De acordo com a sondagem, a elite financeira global prevê que os investidores estrangeiros retirem cerca de duas vezes mais capital do Brasil do que no ano passado, o que pode corresponder a 24 bilhões de dólares (R$ 132 bilhões).
O assustador é que, ao contrário do ano passado, quando os investidores se retiraram principalmente dos títulos do governo brasileiro porque as taxas de juros caíram, eles agora estão vendendo principalmente ações e não mais títulos puramente financeiros. Mas eles também estão investindo significativamente menos diretamente nas empresas este ano do que antes. O IIF prevê que o investimento direto cairá de 73 bilhões de dólares em 2019 para 50 bilhões de dólares este ano.
Os investidores estrangeiros não esperam que as empresas brasileiras aumentem seus lucros e, portanto, dividendos nos próximos trimestres, de modo que os investimentos ainda valham a pena.
Ações e empresas baratas
Isso é surpreendente. Por um lado, as ações e empresas brasileiras ficaram baratas para os investidores estrangeiros por causa da desvalorização. Era de se esperar que eles fossem com sede ao pote, para garantir uma boa barganha. Mas não foi o que ocorreu.
Além disso, a liquidez global é extremamente alta. Há dinheiro suficiente. Por muitos anos, o Brasil sempre foi um porto seguro para investidores mais afeitos a riscos. Isso acabou.
Então, por que os investidores estrangeiros estão procurando a saída? Há várias razões para isso. Todos eles têm a ver com a crescente incerteza em todos os níveis. Por exemplo, a crescente insegurança jurídica mencionada em análises anteriores ou dúvidas sobre o futuro poder de compra dos brasileiros.
Mas a queda do mercado de ações e do real nas últimas semanas e as previsões ruins do IIF também são uma consequência da mudança que está ocorrendo atualmente na política econômica e financeira do Estado: é a mudança da política monetária cada vez mais fraca para o domínio crescente da política fiscal.
Fuga para o dólar
Em suma, ocorre o seguinte processo: o Banco Central é cada vez menos capaz de controlar a inflação futura com taxa de juros e política monetária. Isso pode ser visto nas taxas de juros crescentes que os investidores estão cobrando por seus empréstimos.
Os investidores temem que o governo reduza o déficit através de mais inflação e não por meio de medidas de austeridade ou aumento de receita – e estão fugindo para o dólar. O Banco Central agora pode aumentar as taxas de juros para impedir a saída do dólar e conter as expectativas de inflação. Porque isso aumentaria o déficit orçamentário ainda mais rápido, porque aumentam as despesas do Estado com juros sobre suas dívidas.
Quanto mais tempo permanece incerto se e como o governo está traçando o curso para conter o déficit crescente – mais o real se depreciará, elevando as projeções para a inflação futura.
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