A alta do dólar e o imprevisível real
ARTIGO
Pascoal Santullo Neto*
O dólar teve uma de suas maiores valorizações na história recente do Brasil nos últimos meses. Em primeiro de janeiro deste ano o dólar estava cotado em R$ 4,02. Nestas últimas semanas, o valor tem girado em torno de R$ 5,60. Ou seja, a moeda americana teve um crescimento de aproximadamente 39% em relação ao real. A alta obrigou o Banco Central a intervir no mercado e vender dólares para conter a expansão da moeda americana frente ao real.
A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou em relação à americana, se compararmos com outras moedas emergentes. Como exemplo, para a sul africana, o rand, a queda foi de 32,27%, já o peso mexicano teve uma queda de 27,7%. Pasmem, a nossa moeda só ganhou da lira turca e do peso argentino, que se desvalorizaram 61% e 49,8% respectivamente.
O forte e contínuo processo de desvalorização do real frente ao dólar tem um potencial para causar imensos estragos na economia brasileira. Nossa economia encontra-se em estado de imprevisibilidade total. Vivemos em meio a uma pandemia que paralisou a produção nacional, que só voltará a crescer a partir do momento em que tivermos a vacina, seja ela russa, chinesa, inglesa ou anglo brasileira.
Os investimentos estrangeiros em nosso país em projetos de infraestrutura sumiram. Isto porque, para os investidores externos, o Brasil precisa definir uma regra ambiental, e fiscal transparente, que dê confiança e segurança jurídica para que os investidores possam voltar a acreditar em nosso país.
Outro fato importante para a evasão da moeda americana foi a queda da Taxa Selic ao menor patamar da história do real, 2% ao ano, o que fez com que os títulos do governo brasileiro deixassem de ser interessantes para o investidor externo.
Por falar em queda da Selic, vemos com bons olhos a iniciativa, pois pode permitir que milhares de brasileiros possam ter acesso a crédito barato e possibilitar o fomento de novos empreendimentos, o que era inviabilizado quando tínhamos uma taxa de juros de dois dígitos.
A incerteza de que o governo consiga promover as reformas tributária e administrativa, necessárias para dar um novo fôlego na economia são fatores que também ajudam a pressionar a desvalorização do real frente ao dólar.
E quem se beneficia e quem perde com a alta do dólar? Os exportadores de comodities agrícolas e de minério de ferro são os mais beneficiados com alta da moeda americana e estão lucrando muito, mas, por outro lado, estes também ajudam a aliviar a balança de pagamentos do governo federal.
Mas como a economia é globalizada, a indústria brasileira passou a depender muito de matérias primas importadas e produtos primários também importados, como o trigo - que faz o pão nosso de cada dia - afetando assim o mercado interno e também os consumidores, pois os preços de produtos que dependem de insumos importados subiram muito, pressionando a inflação.
A dúvida que fica no ar é: como a economia brasileira irá se recuperar, uma vez que não há investimentos do setor privado, seja pela falta de demanda interna, seja pela falta de credibilidade do Governo Bolsonaro? O setor público também não tem recursos para tanto, pois sua dívida bruta já chegou a 100% do PIB, mal consegue pagar suas despesas, somada a falta de coragem para os poderes diminuírem suas benesses e cortar na própria carne. A única alternativa para dar fôlego a economia brasileira seria o governo cortar seus gastos ou então usar a velha máxima de manter os privilégios e aumentar os impostos.
*Pascoal Santullo Neto é advogado tributarista em Mato Grosso
e atua no escritório Silva Cruz & Santullo.
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