Ao trocar 34 cargos, Bolsonaro quer transformar a PF em uma Gestapo
Não é exagerado o uso do termo, exagero é trocar 34 cargos da corporação após a saída de Moro
A operação na residência oficial do governador Witzel ainda está deveras obscura, não é possível afirmar que haja uma tramoia do governo, mas é incomum a deputada mais próxima de Bolsonaro, Carla Zambelli, ter informações antecipadas sobre o caso.
O presidente vem demonstrando que não quer interferir na Polícia Federal (PF) apenas para blindar ele e seus filhos, mas para utilizar da corporação como uma ferramenta particular de poder para que possa ser usada a seu bel prazer.
O maior indício disso não é a busca na casa do governador desta terça-feira, 26, e sim a publicação extra do Diário Oficial da União de ontem, em que o Planalto informa a troca de 34 cargos da PF, como noticiamos aqui.
Foram 26 superintendências trocadas, ou seja, em todos os estados, com exceção de São Paulo. Sem Moro para empacar o projeto de Bolsonaro, o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Tercio Issami Tokano, assinou as nomeações.
No dia 16 de maio, a Folha divulgou uma entrevista com o empresário Paulo Marinho, na qual ele afirma que Flávio Bolsonaro teria recebido informações antecipadas de um delegado-informante da PF sobre a Operação Furna da Onça, que chegaria em Queiroz.
Já no dia 22, o decano Celso de Mello quebrou o sigilo da reunião ministerial e pudemos ver que Jair Bolsonaro mostra descontentamento com a PF e dispara que possui um sistema de inteligência próprio e que este sim funciona.
No mesmo dia, em coletiva de imprensa, o presidente deu novas provas contra ele mesmo, ao afirmar que policiais amigos lhe informaram da possibilidade de busca e apreensão na casa de seus filhos, que são investigados pela corporação no estado.
Além disso, o já falecido Gustavo Bebianno alertava para o fato de que Carlos Bolsonaro tentou criar uma Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela com seu amigo Alexandre Ramagem, que só não se tornou diretor-geral da PF por ação do Supremo.
Particularmente não gosto de comparar o governo Bolsonaro com o nazismo alemão, mas o termo "Gestapo" serve perfeitamente para descrever a pretensão de se criar uma polícia secreta que preste serviços não à nação, mas ao líder e seu próprios interesses.
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