Falecimento da CPI Do Paletó - por Luciana Gaviglia

Muitos vereadores revelaram que a verdade dos fatos não interessa, que o importante é que prevaleçam os seus próprios interesses.


Como jornalista reportei o falecimento da CPI do Paletó, como cidadã testemunhei mais um lamentável episódio na Casa dos Horrores, como eleitora guardo nomes em quem nunca votar, como observadora lamento a ausência da sociedade nas galerias da Câmara de Vereadores de Cuiabá, afinal de contas foi uma aula antidemocrática, precisamente famigerada.



Muitos vereadores revelaram que a verdade dos fatos não interessa, que o importante é que prevaleçam os seus próprios interesses. Com este cenário desolador aprendi que a decadente e desrespeitada política se faz todos os dias. Um dos parlamentares indignado com a ‘patrolada’ na CPI chegou a compará-la como a um jogo de futebol, a intitulando de Campeonato Mundial da Mentira, outro a chamou de ‘dois a um’, pois foram com estes números que o instrumento que poderia ter sido democrático foi sabotado.

Serão estes mesmos representantes que tratam a coisa púbica como propriedade que continuarão a nos nortear? Porque os brasileiros estão atônitos sendo plateia de uma orquestra que faz ecoar trevas e corrupção, justamente porque não participam dos desfechos políticos que fazem a diferença na vida da coletividade.

"Um dos parlamentares indignado com a ‘patrolada’ na CPI chegou a compará-la como a um jogo de futebol, a intitulando de Campeonato Mundial da Mentira"

A imprensa está mostrando todos os capítulos desta lamentável história, e você eleitor, está acompanhando? Aguardo ainda os encaminhamentos dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, bem como do Supremo Tribunal Federal – neste caso relativo à delação do ex-governador Silval Barbosa -, e me pergunto por que demora tanto? Demora-se uma eternidade, poderia ser diferente então a ordem das decisões.

O voto de cada eleitor poderia ter amplos poderes, lamento por não ser assim. Afinal o voto tem a autonomia de “contratar” nossos representantes políticos, mas não o de destituí-los, que injusto. Não são os Ministérios Públicos Estadual e Federal, nem tampouco o Supremo, que elegem os nobres colegas, somos nós! Então seria legítima a retirada deles do poder imediatamente, como acontece com o empresário que contrata um colaborador, deposita nele a confiança de seu empreendimento, e, como raposa, este colaborador o extorque ardilmente.

A demissão por justa causa é legítima e imediata, e deveria ser assim com o nosso voto. Mas, como quase tudo é lento no Brasil, assim favorecendo o lado dos interesses individuais, nosso voto de destituição demora a acontecer, e tem validade por quatro anos. Tempo demais, por isso talvez a corrupção seja tão monstruosa, tão letal e tão imoral. E enquanto isso nossos impostos abastecem uma rede de corrupção; são usados para cobrir o saldo vermelho de más gestões públicas; as filas da morte em hospitais públicos aumentam; e as escolas, estas meu Deus, não guardam o futuro da nação, mas sim a desesperança de encontrar uma luz no fim do túnel.

Sexta-feira, 9 de março de 2018. Poderia ser o dia em que a Câmara de Vereadores de Cuiabá reverteu o triste título que recebeu “Casa dos Horrores”, mas, infelizmente, não passou de uma grande oportunidade perdida. Pior, reforçou a triste realidade de que espetáculos apavorantes só estão em nova temporada, ainda mais ousados, mais descarados, e sem aplausos ao final.



LUCIANA GAVIGLIA é jornalista em Cuiabá