Perícia contratada por Emanuel mudou sentido de áudio, diz PF

"Emanuel Pinheiro tentou enganar a polícia federal"

Relatório técnico apontou erros de transcrição de diálogo entre Alan Zanata e Silvio Araújo


Relatório elaborado pela Polícia Federal apontou erros de transcrição e de sentido na perícia contratada pelo prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), para analisar o áudio da conversa mantida entre o ex-secretário de Estado de Indústria, Alan Zanata, e o ex-assessor do ex-governador Silval Barbosa, Silvio Araújo.

O documento está contido nas investigações da Operação Malebolge, 12ª fase da Operação Ararath, que teve Emanuel como um dos alvos de busca e apreensão.

Na conversa, gravada por Alan e entregue a Emanuel, o ex-secretário e o ex-assessor comentam sobre a gravação feita por Sílvio em que deputados e ex-deputados, incluindo Emanuel, aparecem recebendo maços de dinheiro no Palácio Paiaguás, supostamente a título de propina para apoiar a gestão de Silval.

O áudio da conversa e a perícia contratada pelo prefeito foram apreendidos em setembro do ano passado, quando a operação foi deflagrada.

De acordo com a PF, o parecer técnico de transcrição de áudio - elaborado pelo perito Alexandre G. Perez – contém vários pontos com possíveis erros de transcrição, “a maioria sem mudança contextual importante (o que indica que se trata de meros equívocos ou erros materiais na transcrição)”.

“Alguns trechos, no entanto, da forma que foram transcritos - não correspondendo exatamente com as palavras proferidas por Silvio - implicam razoável mudança de significado/sentido”.

Perícia questionada


Um desses trechos é relativo à suposta afirmação de Silvio Araújo no sentido de que teria um garimpo, mas que teria omitido esse patrimônio ao firmar delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Fala de Silvio conforme a perícia contratada: “O momento é ... complicado para todo mundo ( ...) mas, também acho que ele não tem essa mobilidade que de tinha antigamente. Mas pelo menos tô com um garimpo ué”.

Fala de Silvio conforme a perícia da PF: “O momento é ... é complicado pra todo mundo .. {Tanto que o próprio Silvai, às vezes, eu entendo.} Às vezes, (ininteligível) manda apertar ele lá, mas também eu acho que ele não tem essa mobilidade que ele tinha antigamente. Mas, pelo menos, tá com o garimpo, né!? Tem um ...”.

A Polícia Federal afirmou que a transcrição da perícia de Alexandre Perez trouxe trechos que não constam no áudio, “bem como trecho importante transcrito de forma possivelmente equivocada”.

Também é mencionado que a mudança de palavras contida na transcrição da perícia contratada por Emanuel altera a interpretação da frase, “desconstruindo a versão em que Silvio Correa teria omitido a posse de um garimpo”.

Outro trecho citado no documento é quanto à suposta afirmação de Silvio Araújo de ter falado “só o que quis” na delação premiada.

Fala de Silvio conforme a perícia contratada: “Só isso, só isso e falei algumas coisas que eu quis. Só. Nada, nada”

Fala de Silvio conforme a perícia da PF: “Só isso, só isso. E falei algumas coisas que eu {fiz}. Só. Nada, nada”.

Matérias “deturpadas”


Ainda no relatório, a Polícia Federal desmentiu uma reportagem publicada em um veículo local e nacional, que daria conta de que, na conversa em questão, Silvio teria admitido que o dinheiro entregue a Emanuel não seria propina, e sim o pagamento de uma dívida de Silval com o irmão do prefeito, Marco Polo Pinheiro, o “Popó”, por conta de pesquisa eleitoral não-paga.

O órgão disse que a afirmação da matéria “causa muita estranheza”, pois não havia qualquer menção sobre isso no áudio.

“Pode-se observar acima que Silvio afirma que Popó (apelido de Marco Polo Pinheiro, irmão de Emanuel Pinheiro) o havia ‘sacaneado’ pegando cheque referentes a algumas pesquisas e que o havia colocado na justiça. Alan perguntou o valor, se referindo aos cheques, e Silvio responde que seriam R$ 80 mil. Ou seja, a narrativa da reportagem claramente não encontra apoio na conversa ente Silvio e Alan, que é muito mais enxuta e em nada se relaciona a pagamentos realizados a Emanuel Pinheiro”.

“As matérias não só chegam a realizar afirmações deturpadas, como por vezes criam conteúdo que estão ausentes no diálogo em aparente tentativa de defesa em prol de Emanuel Pinheiro”.

Conforme a PF, também não é verdadeiro o trecho da matéria dando conta de que Silvio teria dito a Zanata que gravou Emanuel em outro contexto para dar mais visibilidade à sua delação

“A afirmação da reportagem não condiz com nenhum trecho da transcrição de áudio contida na apreensão e analisada por estes subscritores. Em verdade, Silvio Correa menciona que ‘no contexto’, que pode ser interpretado como o movimento de pressão realizado pelos deputados e a consequente gravação ininterrupta realizada por Silvio (explicada várias vezes ao longo da transcrição), Emanuel é o que ‘dá mais repercussão’. E para deixar ainda mais claro que não houve objetivo determinado de flagrar Emanuel, Silvio diz que ‘não foi escolhido’”.

 “Em resumo, o que se compreende dos textos em que há referência a Emanuel é que Alan Zanata tenta por algumas vezes defender Emanuel Pinheiro e Silvio Correa tenta se justificar dizendo que o prefeito de Cuiabá não teria sido escolhido especificamente, teria sido só mais um dentre aqueles que estavam ali, na ocasião gravada em vídeo, para receber o dinheiro”, pontuou a PF.



Do Midianews