FEIJÃO EM SISTEMA AGROECOLÓGICO É TESTADO EM MT


Treze variedades de feijoeiro comum foram testadas pela primeira vez no sistema agroecológico. O objetivo é reforçar o cultivo do feijão na agricultura familiar. Os testes ocorreram na Unidade Demonstrativa (UD) no Projeto de Assentamento Caeté, localizado no município de Diamantino (208 km de Cuiabá). Quanto às cultivares, oito são da Embrapa, quatro do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e uma da Agropecuária Terra Alta (TAA), dos grupos carioca, rajado, roxo e preto.

A colheita ocorreu entre 15 de maio e 2 de junho. Segundo a engenheira agrônoma da Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), Josivanny Oliveira Santos, como não houve muita chuva no ano, a produtividade das cultivares foi abaixo do esperado. No entanto, foi possível identificar diferenças em seu desempenho produtivo. As cultivares IAC Netuno e a BRS Estilo produziram, em média 214,7% e 176,8%, respectivamente, a mais que as outras. O próximo plantio deve ocorrer em fevereiro, em sistema de sequeiro, com previsão de colheita em maio, quando serão feitas novas avaliações.

Nessa primeira safra, também foi possível observar as cultivares em relação a outras características, como porte da planta, precocidade e suscetibilidade a doenças. “Apesar dos resultados terem sido abaixo do esperado, pela escassez de chuva na floração e na formação das vagens, a experiência foi válida para os agricultores familiares, pois além de terem recebido da assistência técnica, orientações sobre época de plantio, espaçamento, controle de pragas e doenças, também será possível se programar melhor para plantios futuros”, conta a engenheira agrônoma.

A ação foi implantada pela Empaer, em parceria com a Embrapa e o IAC. O estudo pretende identificar quais cultivares se adaptam melhor às condições de cultivo do Mato Grosso em sistema agroecológico. A analista da Embrapa Arroz e Feijão, Marcia Gonzaga, explica: “Nesse assentamento está a UD de feijão comum em sistema agroecológico, onde são validados e inseridos [dados sobre variedades em teste] no conjunto dos trabalhos que são realizados em benefício dos agricultores familiares”.

Os sistemas agroecológicos envolvem produção orgânica de alimentos com um enfoque sistêmico de forma a favorecer a conservação ambiental, manter a biodiversidade e promover os ciclos biológicos e a qualidade de vida.

No Assentamento Caeté, a UD foi instalada em uma área de 1.800 m². Os produtores receberam orientações sobre época de plantio, espaçamento, controle de pragas e doenças. Por se tratar de uma área com um histórico de solo de baixa fertilidade natural com uso prolongado para pastagem, sem adubação, foi necessário fazer uma transição.

Atualmente, na fase de recuperação do solo, deixou-se de utilizar adubos químicos e estão sendo aplicadas práticas agroecológicas, como utilização de pó de rocha, cama de frango, biofertilizantes, extratos de plantas, urina de vaca, compostagem e adubação verde. Mas Josivanny alerta que se trata de um processo de longo prazo.

Na área, estão sendo cultivados, além do feijão, batata-doce, quiabo, mandioca, limão, melancia e abóbora. A leucena foi implantada ao redor da área com a finalidade futura de servir como quebra-vento e fornecer material para cobertura do solo. Também estão plantadas espécies que servem como adubação verde, como margaridão, mamona e feijão guandu.

Na propriedade do senhor Sadi Britzke, que também compõe o experimento, o sistema tradicional foi modificado e desde o ano passado ele adota técnicas de manejo agroecológico . Na área de agrofloresta, plantada há dois anos e que nesse ano ganhou mais um hectare, há frutíferas que fornecem ponkan, banana-da-terra, araçá-boi e pequi, integradas com espécies arbóreas nativas e exóticas, como os pinheiros do Paraná. O plantio de outras espécies é feito nas entrelinhas. Nelas, seu Sadi produz mandioca, milho e abóbora. É uma área de 36 hectares, onde a família está há 17 anos. Há também algumas vacas leiteiras, mas que não interagem diretamente com o sistema. Josivanny explica que a ideia é que a propriedade comece a produzir seu próprio adubo, utilizando os restos de culturas e matérias vegetais misturados com esterco do gado para compostagem.

O produtor conta que a maior dificuldade é o controle de pragas, que está sendo feito com urina de vaca e óleo de nim. Apesar disso, ele não se arrepende da mudança: “É melhor para a saúde de todos. Se tiver que mexer com veneno, uma hora a gente corre riscos. Nos nossos dias, a gente não sabe de onde vem o que está no supermercado, como ele foi produzido, que tipo de produto foi usado. Se tem um jeito de plantar de forma orgânica, é melhor. O povo brasileiro já está querendo isso”.

Em relação à colheita do feijão em uma área de 22,5m x 80m, ele explica: “Foi por causa da chuva. Em março, choveu bem, 288 milímetros. Em abril, foram só 59. O feijão estava já na florada”. Ele mede a chuva em sua propriedade todos os dias. O mau resultado não o desanimou: “Vale a pena porque a gente vai comer feijão. Produziu pouco, mas colhemos em todos os hectares. O solo não estava preparado, mas agora está melhor”. Assim também pensam outros produtores da Associação da Agricultura Familiar Sustentável Policultura (Ceiba), garante seu Sadi, e afirma que muitos manterão a produção de feijão na próxima safra: “Mesmo dando pouco, temos que dar o exemplo”, enfatiza.

Além da implantação da UD, no Projeto de Assentamento Caeté, outros 15 produtores rurais ligados à Ceiba, estão testando duas variedades de feijão lançadas pela Embrapa: a BRS Estilo e a BRS Madrepérola. Elas foram plantadas em uma área de cinco hectares por um projeto financiado pelo Instituto Votorantim, em parceria com a Empaer-MT. A finalidade é resgatar o sistema de policultivo nessa região. Para isso, os produtores estão adotando práticas agroecológicas e fazendo a recuperação de áreas antes degradadas e com baixa fertilidade. A intenção dos produtores é comercializar o feijão para a merenda escolar do município.

“A Ceiba considerou uma grande oportunidade ter sementes de cultivares de diferentes grupos de feijão à disposição dos produtores e poder observar de perto as características de cada uma diante das condições oferecidas no sistema agroecológico, ajudando o produtor na tomada de decisão sobre qual cultivar irá produzir tendo em vista a comercialização”, informou Josivanny.

Segundo o pesquisador da Empaer, Valter Martins de Almeida, essa é uma iniciativa muito relevante, pois reúne o esforço conjunto da pesquisa, da extensão rural e do produtor da cadeia do feijão. A vantagem do pequeno produtor investir no cultivo de feijão é que além de servir para o consumo próprio, o excedente pode ser vendido, inclusive para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).



Digorestenews/Agronotícias

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