CULTURA CUIABANA - Conheça o Siriri e o Cururu
São duas manifestações folclóricas típicas da região pantaneira poderiam ter sido extintas se não fosse a dedicação de gerações em passar para frente os versos, passos e seqüências que fazem parte da cultura popular de Mato Grosso. Tradições seculares de origem indígena, mais populares nas zonas rurais e ribeirinhas, o cururu e o siriri não foram registrados em livros, nem em museus. Eles foram passados de geração para geração, de pai para filho, e devem sua sobrevivência à tradição oral. Até hoje, há pouca bibliografia sobre o assunto e os estudos que existem se baseiam normalmente nos relatos e na memória de alguns personagens que, aos 50, 60, 70, 80 e quase 90 anos de idade, contribuem para manter a tradição viva.
O SIRIRI
Dança regional característica do Estado de Mato Grosso, principalmente nas áreas mais tradicionais. O Siriri é dançado e cantado por homens e mulheres, sendo também bastante apreciado pelas crianças, que gostam das músicas e dos gestos da dança. Enquanto os dançadores se manifestam, ora em roda, ora em fileiras, batendo palmas e cantando, os tocadores - cururueiros - tocam a viola de cocho e o ganzá, seguido de mocho ou tamborim - que é um instrumento parecido com um banco, com quatro pernas de madeira e couro esticado, percutido com dois bastões de madeira. Ao ritmo forte da música, os dançarinos parecem não se cansar, dançando noite adentro.
Alfa Canhetti/Divulgação
Festas populares de Cuiabá, Rosário Oeste, Diamantino, Várzea Grande, Cáceres, Na. Sra. Livramento, Sto. Antônio do Leverger e muitos outros municípios, costumam reservar sempre um momento a essa dança, assim como ao cururu. Verso bastante cantado entre os grupos de Siriri:
"O siriri, o cururu é a nossa tradição
Siriri batendo palma
Cururu de pé no chão."
É muito imprecisa a origem do termo siriri. Para uns vem da palavra otiriri, que designa um entremez do séc. XVIII, em Portugal. Para outros, significa um tipo de formigão com asas que andam rodeando "cupins de asa que fazem um movimento coreográfico parecido com o folguedo." - Milton Pereira de Pinho, Guapo.
O Siriri é também conhecido como dança mensagem, pois não só a música, mas também a expressão corporal e coreógrafa procuram transmitir o respeito e o culto à amizade.
O CURURU
O Cururu é uma manifestação que se compõe de música e dança executadas apenas por homens em formação de roda, na maioria das vezes. Toca-se a viola de cocho, típico instrumento mato-grossense, e o ganzá de bambu, chamado também de reco-reco e o adufo, tipo de pandeiro, sendo, quase sempre, o cururueiro o próprio artesão dos instrumentos.
Cururueiros
Dois a dois, cantam versos e toadas sobre amor, religião, política, "causos", ou o que o mestre cururueiro quiser. Nos versos, é demonstrado todo o conhecimento do cururueiro.
Os curueiros fazem a roda caminhando no sentido horário; iniciam a dança com passo simples de pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo, direito encostando apenas atrás do esquerdo. Sobre essa coreografia básica, os cururueiros "fazem frô", floreiam à vontade desde se ajoelhar até dar rodeios completos. Participam de festas em geral, sendo insubstituíveis nas festas de santos, quando cantam saudações ao santo e músicas apropriadas ao levantamento e à descida do mastro. Usam a expressão " brincar" referindo-se à manifestação, como nesse verso cantado:
"Desde que entrei nessa casa
Esqueci de louvar
Primeiro louvando o santo,
Segundo louvando o altar.
E quero tirar licença,
Permissão para brincar."
Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, nos diz que "... vim a saber que se pratica entre os Boróros de Mato Grosso uma cerimônia ritual e funerária que chamam de bacururu... As palavras têm radicais comuns . Não é inverossímil que dos boróros tenha vindo a dança com o nome de cururu."
Os instrumentos do Cururu
1- Viola de Cocho - Instrumento típico do Estado de Mato Grosso, confeccionado a partir de um bloco de madeira inteiriça ( sarã de leite, etc.), sobre o qual o fabricante utilizando um molde, risca o formato de viola e posteriormente vai esculpindo o contorno.
Viola de Cocho
2- Ganzá - espécie de reco-reco de taquara; instrumento de percussão, feito de taboca, que é todo talhado no sentido contrário ao comprimento. O bambu também sobre três ou quatro rachaduras no sentido longitudinal, dependendo do diâmetro deste. Estas servem para que o som não se torne abafado. Por fim, utiliza-se um pedaço de osso (costela bovina) para raspar a taboca e obter assim o som. Atualmente podemos encontrar uma espécie de ganzá cujas ranhuras são substituídas por molas, de aproximadamente 15mm de diâmetro, que são amarradas nas extremidades da taboca e raspadas da mesma forma. Na falta do ganzá, pode-se improvisar, utilizando um prato esmaltado que será raspado com um garfo ou com uma colher.
Tocando Ganzá
3- Adufe ou Adufo - tipo de pandeiro de couro de cutia, veado ou outro animal e soalhas ou "platinetas" de tampinhas de garrafa. Podendo também serem usadas moedas furadas ou ainda pequenos discos de lata, recortados pelo artesão que confecciona esse instrumento. Atualmente o adufe não é mais tão utilizado no cururu.
OBS: Estes instrumentos também são utilizados no Siriri.
Tocando Adufo
Carreira e Todas do Cururu
Carreiras: Conjunto de versos cantados no cururu, cujo tema é sempre da vida dos santos, ou seja, tema bíblico, que vai desde a criação do mundo até o nascimento, vida e padecimento de um santo.
Verso: É o que corresponde à estrofe, cujo trôvo varia em a, ou, eira, ir, ão, etc. .É cantado antes e após a toada. Os temas principais são: a saudação ao santo, ao dono da casa, aos demais cururueiros, aos festeiros e a algum dos presentes.
Trôvo: É a rima dos versos do cururu.
Toada: No cururu, é o nome que se dá às letras, que não costumam ser muito extensas e raramente são rimadas. Os temas são os mais variado : amor, política, natureza, juventude, bíblicos e outros. O cururueiro prefere cantar toada de sua autoria que pode ou não ser de improviso e não costuma cantar a toada de outro quando o autor da mesma se encontra presente.
OBS: As letras que seguem foram coletadas diretamente com os cururueiros e publicadas da forma exata como são cantadas ou seja, com erros de grafia e de concordância, formando rimas.
Saudação de Altar
Deus te salve altar sagrado,
da santíssima trindade,
a semelhança de Deus,
da mais pura santidade.
Deus te salve altar sagrado,
com as imagens reunidas,
onde está senhor ditoso,
que por nós foi oprimido.
Deus te salve luz brilhante,
sendo de Deus um sinal,
nesse altar tão decente,
um sagrado tribunal.
O meu nobre componente,
Aceitai a saudação,
Saúda a gloriosa,
Virgem da Conceição.
A Virgem da Conceição,
e o padre eterno também,
para gozar a vida eterna,
para sempre amém.
Obrigação do Cristão
Obrigação do cristão
é entrar para igreja adentro,
oferecer sua oração,
para o Santíssimo Sacramento.
Esta palavra bendita,
para todo bom cristão,
Santíssimo Sacramento,
Puríssima Conceição.
Puríssima Conceição,
Virgem Maria Senhora,
concebida imaculada,
daquele reino de glória.
Sem pecado original,
desde o primeiro instante,
para sempre amém, Jesus,
esse nosso Pai amante.
Lição do Mastro
Meu amigo companheiro,
não arrepare meu cantar,
o quê que representa,
quando o santo sai do altar.
Puríssima santidade,
o mensageiro vem também,
este vem significar,
Jesus saindo de Jerusalém.
O cantador quando canta,
não deve Ter embaraço,
do altar até o batente,
como se chama esse espaço.
Há muito filho de Deus,
que não ama com lealdade,
do altar até o batente,
reunião da santidade.
Saudação a São João
Deus te salve São João,
filho de Santa Isabel,
Da família de David,
descendência de Raél.
Deus te salve João Batista,
filho de São Zacarias,
que preparaste o caminho,
para o Divino Messias.
Chega meus irmãos devotos,
qual de nós for mais ditoso,
vamos louvar João Batista,
no seu altar luminoso.
No dia de São João,
venho dar parabéns,
ao profeta Zacarias,
com sua esposa também.
Em 2011 acontece a 10ª edição "Festival Cururu e Siriri de Mato Grosso"
O Festival celebra as manifestações típicas dos grupos de todo o estado e resgata a origem das culturas da região pantaneira. Além das apresentações culturais, o evento realiza o Festival Gastronômico, a Feira de Artesanato e o Seminário das Culturas Populares. O Cururu e o Siriri misturam elementos africanos, europeus (Espanha e Portugal) e indígenas que são as influências mais populares nas zonas rurais e ribeirinhas.
O Cururu é desafio, cantado com improvisações e repentes elaborados na hora e também uma dança que é ritmada por passos fortes, circulares, pulos e batidas de mão. Já o Siriri é uma dança de roda, parecida como dança de terreiro, que lembra brincadeiras indígenas misturando o ritmo hispano-lusitano. Os instrumentos que acompanham são a viola de cocho, o ganzá e o mocho ou tamboril.
Em 2011 acontece a 10ª edição do "Festival Cururu e Siriri de Mato Grosso" que conta com etapa classificatória para escolher os grupos que devem participar do festival. São mais de 40 grupos que mantém a tradição do Cururu e Siriri no estado do Mato Grosso e que devem se inscrever para a etapa de classificação.
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